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Carta de Princípios RJ

 

Durante o ano de 2008 o Núcleo RJ realizou reuniões para chegarmos a uma relação de tópicos os quais julgamos importantes que fossem contemplados em uma carta de princípios da rede RC. Estas contribuições partiram de uma construção coletiva dos participantes do núcleo, quando cada um acrescentava ou alterava tópicos que outros haviam escrito. Deu-se por encerrada a fase quando o texto "estabilizou-se": ninguém quis alterar, ou acrescentar nada a mais.

Carta de Princípios do Núcleo RJ

 

Contribuições para carta de princípios

 

  1. São valores para o grupo que deverão ser promovidos em qualquer de suas ações educativas: autonomia, solidariedade, responsabilidade e atitude democrática. Com relação à democracia, ressaltamos a idéia de resolver impasses por consenso, porque acreditamos que a busca do consenso é inteligente e promove o desenvolvimento pessoal e do grupo, mais do que o voto da maioria, principalmente em ambientes que se possam chamar de educativos.

  2. Toda atividade do grupo deverá objetivar a "formação de pessoas e cidadãos cada vez mais cultos, autônomos, responsáveis e solidários, democraticamente comprometidos na construção de um destino coletivo e de um projeto de sociedade que potenciem a afirmação das mais nobres e elevadas qualidades de cada ser humano." (retirado da carta de princípios da Escola da Ponte).

  3. A tecnologia digital deverá ser utilizada pelo grupo, de modo a desenhar uma rede de conhecimento e de aprendizes que possam usufruir das novidades para a mente e para as comunicações. O grupo deverá ser capaz de utilizar as tecnologias da informação fluentemente, deixando de fazer um uso pobre, centrado em pesquisas que na maioria das vezes não interessam ao educando, ou em apresentações de slides. É necessário pensar sobre como as tecnologias da informação influenciam o conhecimento e o conhecer.

  4. Toda ação educativa deverá ter início com um desejo do educando; novos métodos, modelos e instrumentos de avaliação e acompanhamento do processo educativo deverão ser construídos para estar disponíveis, principalmente para os educandos e também para seus pais e educadores, quando a responsabilidade por sua educação ainda estiver a cargo de outras pessoas que não ele próprio.

  5. Há que haver a crença não na educação, mas sim no educando e em sua vontade de aprender.

  6. Há que se deixar de valorizar tanto o ensino, há que se valorizar a aprendizagem de todos. Todos devem ter a possibilidade de dominar as tecnologias de informação como forma de expressão e acesso à construção de conhecimento.

  7. Deve ser dada a todos a oportunidade de pensar usando tecnologia digital. Computadores devem ser considerados sapatos e não fitas no cabelo. Dá para andar sem sapato? Dá. Mas não é luxo.

  8. Os ambientes por onde passam os educandos devem ser estimuladores de seu desejo de aprender.

  9. O modelo de ser humano é o do ser humano que gosta de aprender, e que gosta de se distrair, mas nunca o de um ser indolente que precisa ser estimulado constantemente, vigiado e punido ou recompensado para que se desenvolva.

  10. Reconhecemos que o modelo de escola fordista, onde os alunos são separados por idade e o conhecimento por blocos ligados sequencialmente deve ser abandonado, visto que as indústrias essencialmente fordistas funcionam melhor com robôs (vide a indústria automobilística) e seres humanos não devem ser reduzidos a robôs. Os estudantes devem ser livres para escolher em que atividades se engajar, e os ambientes educacionais devem se reorganizar para atender interesses variados. Chega de gente sofrendo em escola.

  11. As crianças devem ser tratadas como pessoas inteligentes que tem/podem ter acesso à informação de boa qualidade e devem exercitar seu senso crítico. O contato com adultos e outras crianças deve ser agradável, companheiro e respeitoso e todos devemos ser aprendizes.

  12. Os professores devem descer do pedestal e rever atitudes e posicionamentos; não devem ser escravos e não devem ser deuses, devem ser humanos que gostam de aprender, que duvidam, que se informam e que gostam de compartilhar conhecimento. Não devem assumir o papel de cuidadores, mas devem se sentir responsáveis e agir responsavelmente com qualquer criança/adolescente que encontrem no caminho.

  13. O grupo deve ser capaz de propor cursos de formação para educandos e educadores, de forma a ajudar a transformar a idéia corrente de "eu ensino, vc aprende" em "todos aprendemos, porque consideramos o conhecimento importante/interessante para a vida humana."

  14. Devemos assumir que é impossível todos saberem tudo, e que é importante promover redes de troca de conhecimento, redes de talentos e de competências.

  15. É urgente a revisão dos "conteúdos a aprender", levando-se em consideração as tecnologias da informação. Não é mais possível aceitar que, por exemplo, um físico de renome internacional afirme que a física que se ensina nas escolas não está só errada, como impede que as pessoas que assim aprendem possam sequer compreender o se entende como verdadeiro na física atual; ou que um matemático afirme que as escolas continuam chateando as crianças com uma parcela ínfima da matemática, quando as atuais tecnologias de informação permitem que as pessoas aprendam coisas bastante mais relevantes no campo da matemática; ou ainda que as crianças passem anos na escola e saiam ignorantes. O que é mesmo importante saber para continuar sempre a aprender?

  16. É necessário que as pessoas parem de se referir ao trabalho das crianças como "trabalhinho", aos professores como "tia", ao resultado do trabalho como "uma gracinha".

  17. O verdadeiro amor pelas crianças, pelos adultos e pelo conhecimento deve prevalecer.

  18. Abrir espaços para o diálogo, criar ambientes virtuais e físicos para a pluralidade de idéias, criar espaço para que as diferenças possam ser.

  19. "Como posso aceitar-me e respeitar-me se não aprendi a respeitar meus erros e tratá-los como oportunidades de mudança, porque fui castigado por equivocar-me?" (Humberto Maturana)

  20. "E se a criança não pode aceitar-se e respeitar-se não pode aceitar e respeitar o outro." (Humberto Maturana)

  21. "A competição não é e nem pode ser sadia, porque se constitui na negação do outro. " (Humberto Maturana)

  22. "Enfim, a responsabilidade surge quando nos damos conta de se queremos ou não as consequências de nossas ações; e a liberdade surge quando nos damos conta de se queremos ou não o nosso querer, ou não querer as consequências de nossas ações." (Humberto Maturana)

  23. O diploma é o inimigo mortal da cultura. (Paul Valéry)

  24. Pessoas que se enquadram cegamente no coletivo fazem de si mesmas meros objetos materiais, anulando - se como sujeitos dotados de motivação própria.(…) Inclui- se aí a atitude de tratar os outros como massa amorfa. Uma democracia não deve apenas funcionar, mas trabalhar o seu conceito, e para isso exige pessoas emancipadas. Só é possível imaginar a verdadeira democracia como uma sociedade de emancipados.(…) A única concretização efetiva da emancipação consiste em que aquelas pessoas interessadas nesta direção orientem toda a sua energia para que a educação seja para a contestação e para a resistência." (ADORNO)

  25. O espaço para a educação deve estar aberto à participação da comunidade, tanto dos familiares dos educandos, quanto de pessoas que tenham interesse legítimo no conhecimento, tais como pescadores, marceneiros, mecânicos, cozinheiros, agricultores, etc.

  26. Contribuir e fortalecer o compromisso com: educação de qualidade, concepção humanística, desenvolvimento da formação ética, desenvolvimento integral e harmônico das competências e habilidades humanas, produzindo uma perspectiva de um projeto comprometido para a vida autônoma e independente, favorecendo o trabalho produtivo.

  27. Ampliar a compreensão das relações afetivas entre as pessoas.

  28. Promover e realizar programas de cooperação entre os membros dos núcleos, entre os núcleos dos Românticos Conspiradores e a sociedade em geral.

  29. Contribuir para a difusão de programas, metodologias e experiências inclusivas respeitando a identidade multicultural de cada contexto social.

  30. Estimular cada cidadão a se tornar um agente frequente de mudanças e transformações do espaço escolar e social, público ou privado, para que o ambiente de aprendizagem transcenda os limites da escola.

  31. Sabendo-se que a educação é parte integrante de uma complexa rede de relações sociais e que estas estão, no atual sistema, marcadas pelas desigualdades econômicas. Se faz necessário que a educação se torne também um meio para a consecução de justiça social e verdadeira igualdade entre os seres humanos. Uma força ética que, na ação cotidiana coletiva, transforme e capacite a sociedade para construir um mundo solidário, sem os limites determinados pelos valores do capital.

     

 

 

 

 

 

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